
Se um dia abríssemos uma entidade classista, um sindicato dos Paus, Pintos, Vergas e assemelhados, eu faria questão de publicar uma moção de repúdio a todos os cronômetros e relógios existentes no mundo. Tem coisa pior do que hora marcada e tempo restrito para fazer sexo?
"Olha, só posso ficar até a meia noite, tá?", não importa se são dez, onze da noite ou vinte pra meia noite, é um convite para não trabalhar -- ou brochar, como diz o patrão. Até porque não existe tempo padrão para eu me animar: de manhã, por exemplo, acordo pronto para o combate, preparado para o que der e vier. Em outras horas do dia nem sempre estou tão a postos -- afinal, passar o dia confinado a uma cueca não é algo que deixe um órgão genital atento ao que está acontecendo do lado de fora. Ser pressionado para acordar e trabalhar rapidamente então, isso sim dá vontade de recorrer a um sindicato a ser fundado.
Em Minas, ainda hoje, ouvi que "
só poderia ficar até as 11h30 da matina". Isso incluia o tempo do chefe descer para a farmácia comprar a camisinha, tomar o café da manhã, preliminares e, por fim, a hora de
entrar em cena. Pior que isso, só operador de telemarketing pressionado para atingir meta de venda de assinatura de jornal.
Confesso que podem existir boas rapidinhas. Lembro-me que certa vez a caminho de uma festa, todo o tempo que restava era o tempo de sair do apartamento e chegar no térreo, andando um ou dois andares de escada, com a possibilidade do porteiro aparecer e com a carona de carro esperando, ligando frenéticamente para o celular que vibrava ao meu lado. Foi legal. Mas se eu não souber bem no que
estou me metendo, não tiver intimidade e, principalmente, não puder repetir a dose com tempo livre para poder fazer bem o meu trabalho, poderia ter sido extremamente frustrante.
Quisera eu que todo relógio fosse acompanhado de explosivos que se acionassem automaticamente ao menor sinal de tesão. Por isso nosso sindicato teria que batalhar.